João amava Teresa que amava Raimundoque amava Maria que amava Joaquim
que amava Lili que não amava ninguém.
João foi para o Estados Unidos,
Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre,
Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se
e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história.
O poema de Carlos Drummond de Andrade muitos de nós conhecemos. Uma coisa que chama a atenção foi a maneira que cada personagem, lidou com a rejeição sofrida. Cada um agiu de maneira diferente. E nós, se estivéssemos nesta história, como reagiríamos? Como lidar com o que sentimos quando somos rejeitados?
A rejeição pode provocar uma dor tão intensa quanto a dor física. Em alguns casos se desenvolve um processo de luto, apresentando tristeza intensa, desesperança, isolamento, pensamentos de morte e até mesmo, como no poema tentativa de suicídio. O que torna a dor da rejeição tão imensa?
O sentimento é involuntário, não se pode forçar ninguém a gostar de ninguém. Mas também não se pode impedir ninguém de sofrer a dor da rejeição. A tendência das pessoas é negar ou reprimir o sentimento negativo (dor, tristeza, angústia, vergonha, medo). Fomos levados a acreditar que temos a obrigação de sermos felizes ou pelo menos parecer que somos. Deste modo, interpretamos como inadmissível uma pessoa rejeitar o nosso amor, porque isso vai nos fazer sofrer e temos que ser felizes. Não sabemos lidar com a dor, com o sofrimento. Não fomos preparados para lidar com o sofrimento, o medo, a dor, a frustração, a rejeição. Saber lidar com o que sentimos é essencial e quando se trata de rejeição é necessário ter autoestima elevada, tolerância a frustração e ser resiliente.
Autoestima é o quanto gostamos de nós mesmos. Tem a ver com afeto, admiração, respeito que sentimos por nós mesmos. Quando enfrentamos uma situação em que nos sentimos preteridos pelo outro saber o nosso valor, ter consciência do quanto nos amamos, nos valorizamos, que somos amados por outras pessoas além desta que nos rejeitou, nos dará suporte para suportar a dor da rejeição.
Ser rejeitado gera frustração, que gera raiva, desmotivação. Ninguém deseja ser rejeitado, desejamos ser amados. Desenvolver tolerância a frustração implica em ter consciência de que nem tudo será como eu quero. Implica em ter maturidade para aceitar e lidar com coisas e/ou situações que estão além do nosso controle. Se alguém não nos ama, se não foi possível conquistarmos esse amor ou se esse alguém deixou de nos amar, teremos que lidar com a frustração de forma adulta e aceitar. O afeto é espontâneo, não pode ser forçado ou obrigado.
A resiliência é a capacidade de se adaptar a situações, de superar obstáculos e crises, de resistir à pressão das situações e aprender com a experiência vivida. O conceito de resiliência tem sido muito usado no meio profissional, mas a capacidade de suportar crises, momentos difíceis, também é muito apreciada e necessária em nossa vida pessoal e com a vida amorosa não é diferente. Uma vez que não podemos evitar a dor se faz necessário desenvolver habilidades para lidar com ela. Ser resiliente é atuar apesar da dor, do sofrimento, da frustração, se adaptar a situação, superá-la e aprender com ela.
A maioria de nós, em algum momento da vida, já foi rejeitado e também já rejeitou alguém. Talvez aquele(a) menino(a) do colégio. Você não tinha a intenção de magoá-lo(a), mas não havia o afeto que ele(a) desejava. Talvez mesmo já adulto alguém se interessou por você, mas não “rolou a química”. A maioria das pessoas que nos rejeitam não são “o vilão da novela”, mas vai doer do mesmo jeito. Quando a dor é nossa, é sempre imensa. Mas não teremos opção a não ser lidar com ela.
Antônio Damásio, neurocientista português, explica que o sentimento é uma coisa interna, ninguém pode saber o que você está sentindo. A emoção é externa, então você pode expressar uma emoção de alegria e felicidade e por dentro você está sofrendo. Ninguém sabe, mas você está sentindo, então, ignorar os seus sentimentos porque você tem que ser feliz ou parecer feliz não resolverá para você. Vai continuar doendo. Processe isso. Aprenda a lidar com a dor e consequentemente, seja feliz. Eleve sua autoestima, desenvolva tolerância a frustração e seja resiliente. E não se esqueça: Está doendo, mas vai passar.
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(Texto publicado em meu site anterior, vaniasantos.blog, em 18/04/2018)
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